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12/03/2012

Hipocrisia

O que aconteceria se tivéssemos a coragem e a ternura para sermos nós próprios de forma transparente? Parece-me que aconteceriam coisas boas, no entanto temos pavor a essa ideia. Precisamos de máscaras sucessivas, sobrepostas e intermináveis... e assim construímos um mundo de hipocrisia.

São diversas as dimensões onde isso acontece. Desde a política e os jogos de poder até ao recato da vida privada. Um exemplo que me intriga é o dos relacionamentos e da fidelidade. É curioso observar como as pessoas se casam, juram "fidelidade", são "infiéis" mas juram que não e assim continuam o jogo das aparências, por fim descasam-se apenas para recomeçar tudo de novo. E o mais curioso é que, para além de mentirosos ainda somos infelizes!

Eis um interessante desafio para a ciência: onde será que mora o gene hipócrita? Onde reside o nosso medo visceral à transparência?


10 comentários:

  1. Muito bom Cristi tenho pensado muito em fidelidade ultimamente não só dos casais mas também entre amigos ou supostos amigos beijinhos :)

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    1. :) Eu gosto mais do conceito de lealdade, entendida como honrar os compromissos assumidos quaisquer que eles sejam. É a base da confiança. Beijinhos!

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  2. .... Não percebi bem se falas apenas da hipocrisia nos casais, mas deixo aqui o que eu acho :D Eu acho que o gene da hipocrisia vem da educação :) da familia e como ensinou e mostrou (porque as vezes nem é preciso ensinar, é so mostrar). Depois este gene começa a ter mutações, que são ligadas ao caractère da pessoa mesma, se é de natureza low profile, ou outro, para depois adicionar um pouco de especierias da cultura do país onde a pessoa vide e cresce e convive com os outros, isso afina depois este gene para dar um resultado que é : preferir ser hipocrito que dizer as coisas, ou preferir ser hipocrito por convenience... porque dá mais jeito.

    Em alguns paìses se chama : hypocrisie Sociale/Diplomatique, que significa, ficas educado e nunca dizes as coisas, mas geralmente isso é : mentira. E transparencia é neste caso fica classificada como : jeito bruto, pessoa que magoa. Eu acho que tudo depende da maturidade da pessoa, nada melhor que sentar e conversar, de tudo e de nada, porque no meio de muitas situacoes há mil faltasd e communicacoes.... que depois geram reações que podem ser entendidas como : hypocritas.

    ....To be continued :D

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    1. :D Muito bem, estás feita uma escritora!

      Eu concordo que é um fenómeno social: absorvemos esse comportamento desde o berço, do meio e da cultura em que crescemos. Os casais foi apenas um exemplo. Seríamos mais felizes se fosse o único! :)

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  3. Neste texto, na minha leitura, a hipocrisia é associada num exemplo (não no seu valor integral) à (in)fidelidade. Eu chamaria para aqui outro: a lealdade. Julgo que esta se sobrepõe à (in)fidelidade.Podemos ser leais, cometendo pequenas infidelidades, que confessadas ou expostas poderiam colocar em causa a harmonia e a relação, fosse pela gravidade, fosse pela perspectiva lida.
    O hipócrita, não é nunca, leal.Pode aparentar...
    Há infiéis que podem ser leais.Nos momentos ou matérias verdadeiramente importantes, estão lá do nosso lado.
    Isto aplica-se, na minha opinião ás relações pessoais,profissionais e políticas.
    Lincoln, no recente filme, para aprovar a 13ª emenda (abolição da escravatura), leal à sua promessa e convicção, foi infiel aos seus princípios. A emenda acabou aprovada à custa de subornos e corrupção, pelo homem mais puro da política americana da época (dito no filme).
    De qualquer modo, compreendendo «momentos» hipócritas (infieis), mas não aceito os hipócritas (desleais).

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  4. Esse exemplo de Lincoln dava um bom mote para a discussão de se os fins justificam os meios. Tal como tu, também gosto muito do conceito de lealdade entendida como o honrar de compromissos, cumprir com a palavra dada.

    Achei curioso que a tua perspectiva foi muito pragmática... enquanto o post estava entre o poético, o idílico e o filosófico! :)

    Admiro muito e ambiciono a sabedoria de saber lidar com o mundo de aparências em que vivemos. A minha reflexão consiste apenas em notar que somos nós que optamos por viver num mundo de aparências. Começando dentro de nós, porque as primeiras mentiras começam na nossa relação connosco mesmos, nas máscaras que pintamos para não nos vermos como somos... tudo o resto é consequência.

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  5. Ao longo da vida fui trocando (perdendo) o lirismo, pelo realismo, daí o pragmatismo das perspectivas. Não querendo fazer um fórum neste post mas dado que referistes «se os meios justificam os fins» e eu os filmes, e ainda porque estamos em altura de Oscares, vou abordar os 2 filmes nomeados, que mais me marcaram para este ano:
    00.30 Hora Negra (zero dark thirty)- a captura e morte de Bin Laden (fim), à custa de torturas e subornos (meios, quicá, realistas). A polémica sobre as torturas e a ira que poderá provocar no mundo muçulmano, faz deste um filme politicamente incorrecto (hipocrisia oscariana), para que seja o vencedor. Mas é, para mim, o melhor filme («brutal» mesmo), com realizadora e protagonista (merece igualmente Oscar) femininas.
    Argo - a libertação de 6 americanos reféns no Irão (fim), recorrendo a um criativo plano que envolve a realização de 1 filme de ficção científica (meio). Do ponto de vista político e oscariano é mais consensual.
    Por coincidência, ambos são baseados em factos reais e têm a CIA (o «cúmulo» da hipocrisia?!)como centro das acções.

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    1. O tema do terrorismo tem mais densidade do que "o bem vs o mal" que a versão ortodoxa apresenta. Se todo o mal do mundo fosse o Bin Laden era fácil resolver os males do mundo! Na verdade a luta contra o terrorismo é um exemplo áureo da nossa hipocrisia.

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  6. ...só acrescentar que sou um hipócrita realista e pragmático face aos dis de hoje, que adorando filmes, valorizando realizadores, argumentistas e actores, os pirateio na net.

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