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7/12/2016

Cumpriu-se Portugal... e tu, já te cumpriste?


Eu não sou dada a futebol, mesmo!, e confesso a medo que não vi o jogo da final do EURO 2016. Ainda assim, sinto-me inspirada e profundamente orgulhosa da alma Lusitana que nos habita e que se manifestou de forma tão bela nestes dias.

Sinto-me inspirada e comovida ao ler as palavras de Fernando Santos, na carta que escreveu dirigindo-se a Deus e agradecendo a futura vitória: “Espero e desejo que seja para glória do Seu nome.” Sim, foi para a glória de Algo Maior, para além do nome que lhe demos. Porque é algo muito grande que na arena de um negócio e espectáculo de massas anestesiante se tenha mostrado a milhões de pessoas que há uma dimensão mais profunda, mais humana, mais bela em nós, que pede para ser libertada.

Sinto-me inspirada por um homem que assume a sua fé de forma tão natural, a forma que a verdadeira fé tem, partilhando assim esta dimensão tão grandiosa e tão humilde da sua humanidade.

Sinto-me inspirada pelo tributo que Éder deu à sua coach… um gesto de humildade e grandeza. Porque é preciso humildade para se reconhecer que precisamos de quem nos apoie no caminho da alta performance e é preciso grandeza para dar tributo a quem o merece.

Sinto-me inspirada ao ler que Rui Patrício é praticante de uma linha de meditação e recebe a visita do seu mestre no centro de estágios. Sinto-me inspirada ao testemunhar o compromisso destes atletas com o seu desenvolvimento pessoal, com o seu crescimento como premissa para os seus resultados.

Sinto-me inspirada pela paixão e garra insuperáveis de Cristiano Ronaldo, que contagiou tudo e todos. A tua vontade de vencer foi tão grande que moveu o universo. Sinto respeito por este ser humano que responde à baixeza com classe e, debaixo de todos os holofotes e adulações, encontra espaço para ser sensível aos outros e fiel a si mesmo.

Sinto-me inspirada ao ver o espírito de equipa que uniu os atletas… não sou dada a futebol, mas chamou-me à atenção os vários nomes que ganhavam destaque… não era uma estrela, mas uma equipa onde cada um ocupava o seu lugar e se tornava indispensável num todo maior do que as partes. Tiraram a estrela, mas o todo ganhou ainda mais força!

Sinto-me inspirada a ver um grupo de seres humanos que cresce em conjunto, expandindo o potencial de cada um. Sinto-me inspirada ao ver imagens de Cristiano Ronaldo a puxar pelo Moutinho ou a dizer palavras proféticas a Éder.

Sinto-me inspirada pela garra e nobreza de acreditar em nós próprios… aquela garra que como portugueses tanto gostamos de esconder, mas que quando sai é transformadora.

Sinto-me inspirada que numa Europa em profunda crise, que de tão miserável deixa os refugiados morrerem à sua porta, se tenha demonstrado o que é abraçar o outro na sua diversidade. Esteja a diversidade dentro da nossa equipa ou fora dela. Sinto-me inspirada ao ver a criança portuguesa que consola e abraça, com humana naturalidade, o adepto francês.

Sinto-me inspirada, porque olho para a seleção e não vejo um punhado de seres grotescos a correr atrás de uma bola para ganhar milhões e gastá-los futilmente. Vejo seres humanos, conscientes, comprometidos consigo mesmos e com o percurso que resolveram escolher para si. Vejo profundidade, vejo humanidade, vejo grandeza.

Olho para tudo isso e vejo que no dia 10 de Julho realmente cumpriu-se Portugal. Ganhámos a Taça, mas fizemos muito mais do que isso: cumprimos a Alma Portuguesa. Esse foi o mérito desta Seleção… agora faltas tu e falto eu… tens a coragem de te cumprir?

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