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7/21/2012

Os portugueses e o poder

Somos provincianos na forma como lidamos com o poder. O lidamos refere-se aos portugueses. E o que mais me surpreende é que vejo o mesmo perfil desde o estagiário ao director geral.

Cultuamos o "chefe": profundamente preocupados em lhe agradar, ou em defender-nos, fazendo estritamente o que ele diz. Sentimo-nos inferior ao chefe e, muito comodamente, entregamos-lhe o poder de todas as decisões. E os chefes também alimentam esta atitude: "o que eu digo é lei e que ninguém a desafie".

Não estou a defender nenhum tipo de anarquia, mas sim uma cultura mais criativa, mais paritária, onde todos os elementos têm uma visão válida a partilhar, a defender. A decisão final pertence ao gestor, mas todos os elementos têm uma atitude pro-activa na decisão e na implementação, sentindo-se co-responsáveis pelo rumo tomado.

Talvez por isso eu sinta tanta falta de líderes em Portugal. Não há cultura de liderança, de desenvolvimento do capital humano, de promoção de talento. Quanto mais interajo com pessoas de outros países mais noto este perfil.

Será que ainda carregamos a herança de Salazar? Ou será que Salazar e todos os déspotas anteriores e vindouros surgiram de dentro de nós, do nosso comodismo de confiar a outros o nosso destino?

6 comentários:

  1. Eu digo que sim, salazar ainda esta por aqui :D
    Sente-se até na linguagem corporal dos "empregados" com o "chef"....

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    1. :) Tu fazes parte do grupo de "pessoas de outros países" que me entendem!!! ehehehe

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  2. :) por isso não trabalhamos quase nada com os portugueses desde que descobri este modo de funcionar, muita burocratia, muito poder "imaginario" e quem esta prejudicado é o trabalho ===> o país.
    É engraçado porque ultimamente senti que esta "burocratia" chega até as familias, alguns pais colocam muito protocole para nada só porque sim...
    ;)

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    1. Há extratos sociais que têm essa formalidade... até o "cão" tratam por você! As gerações mais antigas também eram mais formais, era o peso do "respeito"... eu fui educada a tratar os meus pais por "você", por exemplo.

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  3. Ao longo de quase 20 anos a chefiar e ser chefiado vi essa cultura nas várias empresas. É uma realidade, ela existe e é fortemente penalizadora da produtividade e objectividade.Curiosamente (ou não) onde menos a vi foram nas 2 multinacionais onde trabalhei. Comunicação e tratamento bem mais directos e...produtivos.
    Ah e já agora, sempre que vesti a pele de chefe, julgo que era claramente a antítese desta «cultura».

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    1. Eu também só me apercebi desta característica por ter contacto próximo com pessoas outros países, com uma cultura de gestão bastante diferente.

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