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7/15/2012

O paradoxo da segurança


Nós gostamos de segurança. Gostamos de sentir que controlamos a mudança constante e a instabilidade, a incerteza inerente à vida. Camões escreveu que "o mundo é feito de mudança", mas a incerteza incomoda-nos.

Por isso procuramos garantias de segurança, exteriores a nós. Essas garantias podem vir do governo, da lei, da família, excepto de nós mesmos! É mais cómodo entregar em mãos alheias a responsabilidade pelas nossas acções e pelo nosso bem-estar.

Existe, no entanto, um paradoxo. É a ilusão de segurança que nos leva a tomar decisões mais arriscadas. Se retirarmos essa ilusão, tomaremos melhores decisões. Vejamos alguns exemplos:

Os bancos sabem que, em caso de sérios problemas, podem recorrer a algum tipo de intervenção estatal e serem resgatados. Esse mecanismo aparentemente bom é, na verdade, um incentivo a decisões com muito risco que, de outra forma, não seriam tomadas.

O mesmo se aplica ao cidadão. Por saber que existe uma garantia do valor dos seus depósitos bancários, não se preocupa em avaliar o risco e a solvabilidade da instituição financeira com a qual decidiu trabalhar. Isso é uma decisão muito arriscada quando a ilusão de segurança se dissolver.

Outro exemplo que me ocorre é o das pessoas que procuram um emprego seguro. Acomodam-se ao conforto do seu salário, sem investirem nas suas competências pessoais e profissionais nem acrescentar mais valor para a empresa. Na eventualidade de um despedimento, essa pessoa tornou-se totalmente inapta para o mercado de trabalho.

Ou ainda a nossa angústia de ter um relacionamento seguro. Para isso inventamos o casamento. As pessoas assinam um contrato que garante que serão fiéis um ao outro e felizes para sempre. Quem mais ganha são os padres e os advogados!

Um exemplo pela positiva surgiu em Drachten, uma cidade holandesa, que fez uma experiência diferente em termos de segurança rodoviária: reduziu significativamente a sinalização. Não existem sinais de trânsito, nem semáforos - não existem medidas de segurança. Qual foi o resultado? Menos acidentes! Este resultado contra-intuitivo deve-se ao facto de as pessoas, por se sentirem menos seguras, terem comportamentos menos arriscados.

Apaixonei-me por este conceito. O maior insight foi perceber que a verdadeira segurança reside dentro de nós, na nossa capacidade de responder às mudanças e, acima de tudo, de assumir total responsabilidade pela nossa vida e pelas nossas opções.

Procurar e confiar em garantias de segurança exteriores é augúrio de um mau desfecho. Por isso, da próxima vez que o medo te levar a procurar segurança, que toquem todas as sirenes de alarme! Substitui o medo pela coragem de seres dono(a) do teu destino!

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Obrigada!!! Quando li este conceito pela primeira vez fiquei inspirada :) Fez-me olhar para as coisas de outra forma.

      Beijinhos!

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  2. Adorei! Obriada por partilhares. Beijos

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  3. Este é um texto muito interessante, sobretudo nas analogias e perspectivas práticas que exemplificas. Gostei.

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