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11/11/2012

O que as crenças dizem sobre nós

A cultura, a mentalidade, as crenças têm tanto de interessante como de inquietante. E porquê? Porque as nossas crenças determinam a forma como vemos o mundo. Aquilo que que chamamos realidade é uma percepção filtrada e distorcida pelas lentes da nossa cultura. Formam um quadrado, fora do qual a nossa visão não alcança.

Católica de berço, já há algum tempo que as minhas asas voaram para lá desse quadrado. Mas é quando a ele regresso, que noto o poder das crenças e de como elas podem moldar e limitar o alcance da nossa visão.

Há dois traços comportamentais que eu noto que são inculcados pela religião, neste caso, a católica: ser subserviente e ser vampiro. Talvez a doutrina não diga isso, mas é isso que o comportamento dos fiéis reflecte e que os recém-chegados assimilam. Primeiro o ser humano desvaloriza-se, humilha-se e depois procura em desespero sugar algum tipo de benesse da divindade. Pobres de nós pecadores, indignos, desesperados por uma graça divina, prometemos e fazemos de tudo a troco da mesma, que o digam os joelhos dos fiéis em Fátima. Assimilámos para o nosso subconsciente a postura de miseráveis pedintes. É o recalcar permanente e doentio da falta de auto-estima. Seríamos tão mais felizes se o primeiro impulso para procurar uma divindade fosse agradecer e não implorar!

Por outro lado, a nossa visão de Deus revela mais de nós do que de Deus. Para começar, por que motivo é Deus? Não poderia ser Deusa? Afinal, quem é que gera a vida no seu seio? Este pormenor será suficiente para um historiador nos  milénios vindouros inferir qual era o género dominante na nossa sociedade!

E, por maioria de razão, no nosso imaginário Deus é humano... como é compreensível, não podemos estar sujeitos aos caprichos de um Deus com formato de formiga! Se Deus vai cuidar dos nossos interesses, convém que seja feito à nossa imagem e semelhança.

Ainda no nosso imaginário, Deus é vingativo, condenando-nos ao fogo do Inferno ao menor erro. Talvez venha daqui a nossa proverbial aversão ao risco, que tantos danos faz à economia. Bem como a consequente intolerância que temos com as falhas e com os que falharam. Mesmo sabendo que errar é humano.

Dito isto, quero deixar claro que respeito totalmente as crenças de cada um. A minha reflexão é no sentido de perceber o efeito que algo tão inocente como uma crença pode ter naquilo que somos. E se agora olho para trás e percebo o impacto que as crenças católicas tinham sobre mim e têm sobre os outros... haverá quem pense o mesmo das minhas crenças actuais e da forma como eu vejo o mundo. Há sempre um quadrado maior a ser conquistado!

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